A contratação de serviços de engenharia (e certamente outros) usando o “menor preço” como fator decisório, é um grave erro. É simplista e só defensável em situações casuísticas ou exceções.
Os argumentos para escolher engenharia pelo menor preço são inocentes, infantis, demagógicos ou “espertos”. O menor preço será sempre daquele que errar para menos, ou do desesperado que “mergulhar” o preço. Em ambos os casos o contratado ficará na dependência da boa vontade da fiscalização. Meio caminho andado para conhecidos problemas.
Com a opção pelo “menor preço”, os prepostos dos contratantes acham que estão se eximindo de críticas e suspeitas, seu salários chegarão no fim do mês e o resto que se “exploda”. Na verdade estão enterrando a engenharia brasileira.
Para que nem se diga que estamos “inventando moda" (embora novidades não sejam intrinsecamente erradas, é muito comum esse tipo de contestação), nos idos de 1975-76-77 houve diversas concorrências de engenharia com critério de decisão usando o preço médio dos ofertantes. Antes de fazer a média, eliminavam-se os preços extremos para evitar distorções ou manipulação e ganhava aquele que se aproximasse mais da média, ou seja, a decisão, não manipulável, ficava entre os que sabiam o que estavam propondo fazer. Funcionaram muito bem para o interesse público e da engenharia brasileira. Infelizmente o critério foi abandonado. Por quê?
Dentre os serviços de engenharia, a contratação por menor preço é ainda mais cruel para as atividades de “Consultoria e Projeto” (que responde por cerca de 7,5% do custo dos empreendimentos). É o pessoal do papel, onde são feitos os planos e os estudos, definidos e calculados onde e como serão construídos (ou não) portos, estradas, canais, sistemas de água e esgotos, escolas, presídios etc. E isso é claríssimo, pois sendo um serviço que precede a concretização do que se quer, como mensurá-lo e muito menos julgar com o preço?
A engenharia brasileira, considerada uma das melhores do mundo, foi atingida em cheio por um conjunto de situações que queremos e precisamos ver revertidas. Em um mea culpa, os engenheiros ao se submeterem às regras do jogo (ou seriam excluídos), se habituaram a conviver em ambientes infectos, onde uma das máximas é “o bom cabrito não berra”. Acabaram se desarticulando como cidadãos ou grupo. Os próprios órgãos de classe não os defendem, porque os interesses corporativos (de instituições onde os engenheiros são minoria: o conjunto nnnnbrás) se sobrepõem.
Os cidadãos que optam pela honrada e digna profissão de engenheiro, operários mais qualificados, mas sempre operários, costumam ser extremamente práticos e lógicos. Como foi acontecer isso no nível que está ocorrendo?
Estamos convencidos de que é preciso identificar e corrigir as causas do infortúnio por que estamos passando no setor de engenharia e que este é um dos pontos que precisam ser discutidos sem preconceitos.
Escolher pelo menor preço é um “me-engana-que-eu-gosto”. Há outros. Voltaremos ao tema.
Por Miguel Fernández y Fernández, publicado no Jornal do Brasil, em 21 de agosto de 2018.
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